Cada empresa tem sua trajetória bem particular rumo ao sucesso e à subsistência. O crescimento de pequenos negócios envolve realidades bem distintas desde o início, como capital inicial, preparo da equipe, ambição do empreendedor e cenário econômico, por exemplo. Diante disso, é praticamente impossível traçar um manual fixo para que esses empreendimentos prosperem.
Porém, ao observar os desafios em comum que essas empresas enfrentam, é possível estabelecer algumas similaridades em diferentes estágios de desenvolvimento. Isso se aplica por mais diferentes que sejam as naturezas dos negócios: desde uma lanchonete até uma startup focada em big data.
A compreensão desses estágios pode auxiliar empreendedores e gestores a se anteciparem para algumas decisões que precisarão ser tomadas ao longo da jornada, como aquelas que dizem respeito a investimentos, regime tributário e delegação de tarefas, por exemplo.
Pesquisadores do ramo de administração e negócios desenvolveram um modelo que consiste em cinco estágios para o crescimento de pequenas empresas, independentemente do setor. O modelo foi publicado na Harvard Business Review e consiste nas cinco etapas a seguir:
1. Existência
Bem no começo, as principais questões de um negócio envolvem conseguir clientes e entregar o produto ou serviço para o qual foi contratado. Os principais questionamentos quando a empresa passa a existir devem ser:
– Conseguimos ter clientes o bastante, entregar nossos produtos e oferecer serviços com qualidade suficiente para nos tornarmos um negócio viável?
– Conseguimos expandir a partir daquele cliente-chave ou daquele lote piloto para um modelo mais amplo de vendas?
– Temos dinheiro o suficiente para cobrir as consideráveis despesas dessa fase inicial?
Normalmente na fase da existência é o empreendedor que faz tudo e, mesmo quando dispõe de uma equipe, é ele quem pessoalmente supervisiona os seus subordinados. A organização e o planejamento da empresa são bem simples, e em alguns casos até inexistentes. O dono se torna o próprio negócio ao desempenhar todas as tarefas importantes e é ele quem emprega toda a energia, direcionamento e até mesmo investimento financeiro.
Muitos negócios acabam não passando desta etapa e os motivos são vários: falta de aceitação no mercado, o investimento inicial é insuficiente ou o empreendedor não consegue atender as demandas do mercado. Aqueles que sobrevivem passam ao estágio seguinte.
2. Sobrevivência
Passando o período de existência, a empresa mostra que tem fôlego para sobreviver no mercado: possui clientes suficientes e consegue satisfazê-los o bastante para que eles se mantenham fiéis. O problema a ser solucionado aqui diz respeito à relação entre receitas e despesas, que levam aos questionamentos:
– No curto prazo, conseguimos gerar renda suficiente para nos mantermos e para cobrir reparos e substituições de nossos bens quando necessário?
– Conseguimos, no mínimo, gerar um fluxo de caixa saudável para nos mantermos no negócio e investirmos em crescimento?
O negócio ainda é bem simples nesse estágio. Talvez com um número reduzido de colaboradores subordinados a um gerente ou gestor geral. Nenhum deles toma decisões, limitando-se a seguir as orientações do proprietário. O planejamento na maioria dos casos é limitado a acumular reservas financeiras e o objetivo principal ainda é a sobrevivência.
Na fase da sobrevivência a empresa pode crescer e conseguir seguir para o próximo estágio com seus lucros. Porém, não é raro que muitos negócios permaneçam nesse estágio por um bom tempo ou que continuem nele até a empresa fechar ou ser vendida quando o dono se aposenta.
3. Sucesso
Passando da mera sobrevivência, a empresa pode chegar à fase do sucesso. Nesse estágio as decisões dizem respeito a aproveitar as realizações da empresa e expandir ou mantê-la estável e lucrativa, dando espaço para que o proprietário se dedique a outras atividades enquanto o negócio continua “girando”, mesmo sem o seu envolvimento tão intenso.
Para que isso seja possível, a empresa já deve contar com um profissional ou uma equipe de gestão, capaz de manter os negócios estáveis e saudáveis sem a presença do fundador da empresa. Planejamentos básicos de finanças e marketing devem fazer parte desse estágio, nem que seja apenas para manter a empresa no topo. Muitas empresas continuam bem-sucedidas mesmo com o afastamento de seus proprietários. Caso isso não ocorra, o desfecho pode ser o retorno do empreendedor aos negócios, o retorno da empresa à fase de sobrevivência ou até mesmo a falência da empresa.
Num outro cenário, no qual o proprietário não se afasta do negócio, é ele quem o direciona para continuar o crescimento. O maior desafio aqui é fazer os investimentos necessários e manter a empresa lucrativa sem interferir na qualidade dos produtos ou serviços oferecidos. Aqui o planejamento estratégico se torna ainda mais essencial, envolvendo setores como marketing, financeiro e RH. Se tudo der certo nesse plano de crescimento, a empresa está pronta para decolar.
4. Decolada
Quando o sucesso evolui para uma decolada, os principais desafios dizem respeito a como crescer rapidamente e como bancar esse crescimento. As principais perguntas se concentram em duas áreas principais:
Delegar: o empreendedor consegue delegar responsabilidades a outras pessoas para otimizar a gestão de um negócio que está no caminho de se tornar muito maior e complexo? Além disso: será uma delegação ainda com o controle sobre performance e sobre correção do que está errado na empresa, ou será uma abdicação do proprietário, cedendo totalmente tais poderes?
Dinheiro: há fundos suficientes para cobrir as grandes demandas que tal crescimento exige e um fluxo de caixa que não esteja comprometido com controles ineficientes das finanças ou mal direcionado pelos investimentos impulsivos do proprietário?
Nessa etapa a empresa deve estar descentralizada e os principais gestores devem ser muito bem-preparados para lidar com o crescimento e com um ambiente corporativo mais complexo. Isso também significa um destacamento do proprietário, por mais que ele se mantenha presente no dia a dia da empresa — as decisões não dependem somente dele.
Muitas empresas permanecem nesse estágio e continuam a ser bem-sucedidas por muito tempo. Com o planejamento adequado, o negócio pode ser mantido na família e transferido para gerações futuras, ser vendido por um bom valor de mercado ou passar para a próxima etapa.
5. Maturidade de recursos
As principais preocupações de uma empresa que chega nesse estágio estão em consolidar e controlar seus lucros obtidos no crescimento e, em segundo lugar, manter as vantagens das empresas pequenas, como a flexibilidade de resposta e o espírito empreendedor. A expansão da equipe de gestores deve estar focada em eliminar qualquer tipo de ineficiência gerada pelo crescimento e profissionalizar a empresa, seja com a qualificação da equipe ou com a adoção de automações.
A empresa que chega ao quinto estágio tem a equipe e os recursos financeiros para se comprometer com um planejamento estratégico e operacional detalhado. Tal planejamento ocorre de maneira descentralizada, com uma equipe de líderes capazes e experientes.
Parabéns, a empresa chegou ao último estágio do desenvolvimento de pequenas empresas. Ela tem vantagens como tamanho, recursos financeiros e uma gestão talentosa. Se conseguir manter seu espírito empreendedor, será uma força imbatível no mercado.
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