O segundo domingo de maio está chegando e com ele uma enxurrada de campanhas de Dia das Mães. Isso não ocorre por acaso, já que esta data é a segunda mais importante para o comércio no Brasil, perdendo apenas para o Natal.
No entanto, é preciso ficar atento à evolução da sociedade e no conceito de maternidade que levamos hoje em dia para evitar campanhas estereotipadas e que parecem ter saído do século passado. Dados levantados pelo Google apontam que boa parte das mães não se sente representada pela publicidade destinada a elas. Isso porque frequentemente as campanhas não abordam a maternidade real, e sim, um conceito idealizado.
Confira abaixo quais erros não cometer nas campanhas de Dia das Mães:
1. Achar que mãe é “do lar”
Este conceito de mãe dona de casa foi muito popular na década de 1970. Isso mesmo, há quase 50 anos! De lá pra cá as mulheres, incluindo as mães, passaram a ocupar posições e assumir tarefas que antes eram exclusivas dos homens. As mães têm outros deveres e interesses, sendo que 38% apontaram que trabalhar fora é a atividade que mais consome seu tempo diariamente, contra apenas 16% que disseram passar a maior parte do dia cuidando da casa. Quando questionadas sobre que tipo de presente gostariam de ganhar dos filhos os resultados foram:
33% roupas, sapatos e acessórios;
22% celulares e smartphones;
16% perfumes e cosméticos;
14% chocolates e flores;
13% joias e bijuterias.
Somente 12% responderam eletrodomésticos. Ou seja, lembre-se de que presente para a mãe não é presente para a casa.
2. Campanha muito artificial, estilo “comercial de margarina”
Nos anos 1980 as campanhas evoluíram da mãe dona de casa para aqueles comerciais de margarina, com a família perfeita, os filhos perfeitos e a mãe perfeita. Tudo pode parecer muito lindo de se imaginar, mas a verdade é que ninguém realmente se identifica com isso. Sem contar que estas campanhas traziam toda uma idealização de amor incondicional e de um estado permanente de felicidade. Simplesmente não cola. Toda mãe (e todo filho) sabe que que nem todos os dias são bons, que existem discussões e que aquela ideia da família tradicional reunida em torno de uma farta mesa de café da manhã só existe na ficção. Se o público não se sente representado, a marca não conseguiu se comunicar com ele. Ou seja, nem mães e nem filhos irão se lembrar do seu produto se você fizer isso.
3. Cair no clichê da “supermãe”
Faz pouco mais de uma década que a publicidade se deu conta que a ideia da mãe perfeita não estava colando mais. Justamente por reconhecer que elas passam boa parte do dia no trabalho, dividindo suas responsabilidades de mãe entre outras atividades, veio a ideia da “supermãe”, que dá conta da casa, do trabalho, dos filhos e ainda acha tempo pra colocar um salto e ser linda. Por melhor que tenha sido a intenção de reconhecer essa face “multitarefa”, este tipo de campanha acaba criando uma pressão e uma expectativa da sociedade de que as mães sejam sim estas super-heroínas que fazem tudo com perfeição. A ideia da supermãe maquia todas as inseguranças, dúvidas e dificuldades que as mães de verdade enfrentam. Tanto isso é verdade que 40% das mães acham a maternidade uma tarefa difícil, mas só 25% têm coragem de falar publicamente sobre estas dificuldades. Então, chega de jogar pressão nas mães, viu?
4. Achar que existe uma fórmula de “mãe”
Repita comigo: mãe não é tudo igual não! Ser mãe não é padecer no paraíso! Nem todas amam a maternidade, nem todas são exemplo de amor incondicional, nem todas têm um milhão de tarefas, nem todas têm a ajuda do pai, nem todas tiveram uma gestação. Resumindo, não tente resumir a maternidade a um modelo padrão. Ou melhor ainda: não tente dizer o que é certo ou errado para uma mãe. Cada uma sabe da sua história, dos seus desafios e o que elas menos precisam é que a sociedade cobre algo que ela simplesmente não é. A palavra de ordem aqui é respeito, principalmente em relação às particularidades de cada mãe e de cada família.
5. Tratar a mulher como única responsável na criação dos filhos
A maternidade é uma jornada solitária para a maioria das mulheres, até daquelas que têm um parceiro. Embora 30% delas se declarem “mães solo”, há outros 35% que dizem dividir responsabilidades e, ainda assim, ficam com a maior carga de trabalho quando o assunto é a criação dos filhos. Dificilmente estes 65% de mães escolheram isso. Por mais que a sociedade tenha evoluído nas conquistas das mulheres, elas ainda são vistas como as principais criadoras dos filhos. Quantas mulheres você conhece que interromperam ou atrasaram a carreira porque tiveram filhos? E agora, quantos homens você conhece que passaram pelo mesmo? E sem contar que as mães que continuam a investir na carreira nem sempre são bem vistas pelas pessoas, que acham que elas deveriam dedicar mais tempo aos filhos. Ou seja: mães são criticadas quando deixam a carreira de lado e até quando não deixam. Por que os pais não têm o mesmo tipo de cobrança?
Resumindo, esqueça os estereótipos. O maior presente que as mães merecem da publicidade sempre foi o respeito.
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